segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Alberto Dines: E, agora, José?

A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou..."

E, agora, João, Antônio, Joaquim, Maria e, agora, Luiz? O imortal poema de Carlos Drummond de Andrade é o mais perfeito lamento do day after, confronto com a realidade, cantochão pós-euforia. Aplica-se perfeitamente ao vazio que se seguiu à vibração da sexta-feira (2/10) quando foi anunciada a escolha do Rio para sediar as Olimpíadas de 2016.

Depois do carnaval em Copenhagen, a ressaca inevitável – trabalho insano, responsabilidades, dificuldades, cobranças, disputas, cobiça, solidão, silêncio. Serão sete longos anos de muito sacrifício. Dois mil, quinhentos e cinqüenta e cinco dias de dedicação integral.

A Cidade Maravilhosa, merecidamente premiada, terá desafios extras: grande parte das obras de infra-estrutura terão que ficar prontas dois anos antes, para a abertura da Copa do Mundo. O Mundial de Futebol não pode ser inaugurado nem centralizado num grande canteiro de obras inconclusas.

Hoje se inicia a contagem regressiva para 2014-16 e, sendo assim, é preciso registrar que o oba-oba da mídia foi desmedido. Impróprio. Evidencia-se, mais uma vez, como na esfera esportiva nossos jornalistas obedecem a códigos especiais e não se avexam em fazer parceria com marqueteiros, publicitários, cartolas e afins. Esqueceram novamente o compromisso de advertir, alertar para os perigos, ligar os alarmes. Preferem jogar para a galeria e as arquibancadas.

Ordem truncada

Dos vinte grandes nomes e "nomões" do nosso jornalismo apenas dois assumiram o seu papel de críticos antes da decisão do COI: Juca Kfouri, da Folha de S.Paulo e rádio CBN e Janio de Freitas, colunista político da Folha de S.Paulo. São de outro planeta? Não. Diferenciam-se porque não esquecem o indispensável dever crítico, têm presente o compromisso de duvidar.

Não há em nossa imprensa quem desconheça o sistema de vasos por onde escoa parte das verbas dos projetos grandiosos nem há quem ignore o pântano sobre o qual está construído o nosso esporte. Mas as coisas no Brasil saem sempre truncadas: os céticos são denunciados como traidores da pátria e os que fazem a festa passam por abnegados heróis.

* Comentário para o programa radiofônico do OI, 5/10/2009
* Fonte: OI

Um comentário:

  1. Passei a te admirar desde os primeiros momentos em que te vi!!! Por beleza, depois por inteligência, esforço, determinação... Bom são muitas razões!!! Nesse momento quero dizer que seu blogue tá muito interessante e do seu jeito, com tudo o que esta apredendo, adoro seu modo de escrever e expressar suas opiniões. Enfim tenmho muito orgulho de vc!!! Beijos!!! Seu Marido!!! E Tudo Mais!!!

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